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O carnaval valente dos sergipanos, com seu gosto original de festa caseira!

Atualizado: 4 de mar.

Caretas em Ribeirópolis
Festa das Caretas, há mais de 50 anos sempre realizada no mês de fevereiro, em Ribeirópolis/SE

Nasci numa terça-feira de carnaval e isso pode sugerir que eu seja um folião de quatro costados, coisa que nunca fui.


As primeiras festividades sob o reinado de Momo, conheci em pequenas cidades do interior: as caretas, o corpo lambuzado com talco e água e os gritos nos clubes.


Em Aracaju, nos anos 1970, havia a fuzarca da molecada pelas ruas, a farra motorizada dos calhambeques, os blocos, os bailes à fantasia… e Hilton Lopes!


Os blocos desfilavam pelas ruas da cidade, em cima da carroceria de carretas. Foliões e foliãs vestiam uma túnica branca que se chamava mortalha.


A música dos blocos era tocada ao vivo por charangas, com instrumentos de sopro e percussão. Acredito que o mais badalado tenha sido o Bloco Rebu.


Certa vez, alguém teve a ideia de inaugurar, com um grito de carnaval, um enorme galpão construído pela Secretaria de Estado da Educação, na Av. Gentil Tavares.


Gilvan, um amigo que morava na rua Riachão, comprou entrada para as três noites. Na manhã do sábado, todo mundo quis saber como foi a abertura da festa.


O folião amanheceu com o nariz entupido, os olhos vermelhos, a garganta inflamada e quase sem voz. Tossindo sem parar, comunicou que para ele a folia estava acabada.


Acusava a organização de não ter mandado varrer o prédio recém-construído. Quando a turma começou a pular o carnaval, subiu um poeirão denso e tomou conta de tudo.


Os desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro chegavam pela TV e em algum momento foram realizados aqui também, pelas ruas do centro da cidade.


As nossas escolas desfilavam partindo não sei de onde e entravam apoteóticas na praça Fausto Cardoso. Lembro bem de uma delas: a Tubarão da Praia…


A temporada carnavalesca era anunciada quando os canais de TV colocavam no ar o programa sazonal de Hilton Lopes.


O embaixador do Aribé desancava as autoridades que não estavam dando bola para Momo. Batia na bancada, esbravejava, soltava os cachorros…


Quando as prefeituras iam anunciando apoio, o gogó do dono da Bandinha do Bizu mudava o tom. Daí pra frente era a crônica diária e vibrante, dando conta das chuvas de confetes e serpentinas.


Hilton Lopes também produzia festivais de música carnavalesca. Os sambas, frevos e marchinhas revelavam a influência carioca e pernambucana sobre a aldeia Serigy.


Não tardou muito e os trios elétricos anunciaram que não era mais possível ficarmos indiferentes aos sons reverberados desde a praça Castro Alves.


A nossa Fausto Cardoso foi o primeiro circuito percorrido pelo Trio Elétrico Tapajós. Na minha memória, o primeiro caminhão com alto-falantes a desfilar por aqui.


Apareceram então um magricela branquelo e um cabeludo que faziam a guitarra baiana soar como se estivesse nas mãos de Armandinho. Eram Pantera e Lito.


De lá pra cá, chegamos ao carnaval 2025. Pelo interior, continua a tradição das caretas. Em Aracaju, anuncia-se uma reinvenção dos blocos de rua.


Com esse gosto original de festa caseira, persiste o carnaval valente dos sergipanos!


Foto: Franklin Andrade / Guia do Comércio de Ribeirópolis, 2012.

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