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Senhora dos supermercados: o nascimento de uma lenda urbana

Atualizado: 13 de mar.

Senhora dos supermercados, lenda urbana

Com um pouco de paciência e sorte, é possível encontrá-la. Eu mesmo já a vi três vezes circulando nos corredores de um antigo mercadinho localizado no coração da zona sul. Dizem que aquele foi o primeiro.


Nos supermercados dos shoppings e mesmo em outros menores, espalhados pelos bairros, lá está ela. Com a chegada dos atacadões, em cada um deles essa senhora já foi vista empurrando carrinhos abarrotados de mercadorias até não caber mais.


Aliás, essa é a pista para identificá-la. Desde a entrada na loja, quando pega o maior dos carrinhos, até encalhar na fila do caixa, a senhora dos supermercados empilha mercadorias simulando mover uma montanha.


Ao contrário do que possa parecer, para quem a vê nas compras, ela mora sozinha. Filha única, com a morte dos pais continuou no mesmo apartamento amplo que a acolheu quando trazida da maternidade.


Ainda criança, habituou-se a ver e ouvir o pai a desdenhar de consumidores miúdos. "Aquele é um zé-ninguém, um pé-rapado, vejam só, usa cesta" – dizia o soberbo senhor enquanto exibia o carrinho cheio.


A necessidade do pai, de demonstrar superioridade por meio do grande volume de mercadorias amontoadas nos carrinhos de supermercado e dos comentários decorrentes, impregnou a filha. Mais que isso, tornou-se nela uma obsessão para além do esbanjamento.


Durante um bom tempo, a ostentação dessa senhora fez a festa dos funcionários do condomínio onde mora. Uma certa empregada doméstica fazia distribuição do excesso entre zeladores e porteiros, até ter sido demitida pela patroa, por justa causa.


Um amigo, vizinho de prédio da misteriosa dama, contou-me que ao se aproximar do condomínio em certa madrugada, por uma rua lateral e pouco movimentada, a avistou retirando do porta-malas do carro sacos plásticos cheios de compras e jogando-os em um resto de manguezal.


Com o tempo, essa rainha do consumo pródigo tornar-se-á uma lenda urbana. Porém, aqueles cuja curiosidade seja despertada, com um pouco de paciência e sorte ainda poderão vê-la desfilando nos supermercados de Aracaju.


Enquanto rasteja e move a sua montanha particular sobre rodinhas, a senhora dos supermercados balbucia: “Preguiçosos, são todos preguiçosos”.

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